terça-feira, 26 de junho de 2012

RESUMO DO LIVRO PEDAGOGIA DA AUTONOMIA


 RESUMO DO LIVRO PEDAGOGIA DA AUTONOMIA
de Paulo Freire – Ed. Paz e Terra-São Paulo:2002
               
 Paulo Freire levanta três teses fundamentais nesse livro:
1ª- Não há docência sem discência.
2ª- Ensinar não é apenas transferir conhecimento.
3ª- Ensinar é uma opção especificamente humana.
            Em relação a primeira tese Paulo Freire argumenta que ninguém se educa sozinho. A relação docente-discente é a base da existência humana, pois é a base da interação social.
            O professor não importa se revolucionário ou tradicional, é um sujeito histórico social que precisa descobrir-se como sujeito ético para realizar sua função pedagógica. Para a conquista dessa eticidade Paulo Freire sugere a necessidade de apropriação por parte dos professores de saberes capazes de contribuir para a elaboração da autonomia profissional e pessoal capazes de favorecer uma “ética universal do ser humano”.
            Paulo Freire condena os princípios rígidos do capitalismo e do neoliberalismo que impedem a vivência plena dos potenciais humanos em favor do desenvolvimento apenas da capacidade produtiva. Princípios que mantém os privilégios de uma classe em detrimento dos direitos dos demais setores sociais. Os mecanismos opressivos da educação capitalista só podem ser debelados pela reestruturação dialética da escola e da sociedade.   
            A construção da autonomia do educador para a construção e objetivação de uma pratica pedagógica mais libertária passa pela indispensabilidade de reintegração entre o saber-fazer e a dimensão política da educação (suas finalidades e consequências).
            A dimensão técnica  saber e saber fazer exige domínio sobre os metodologias, as teorias da aprendizagem, o conteúdo  especifico a ser trabalhado, a competência para pesquisar e construir o conhecimento.
            A dimensão política da prática docente exige criticidade, reconhecimento e valorização   do ser humano como ser histórico e social, reflexão critica sobre a pratica e sobre as finalidades da educação(ensinar): O QUE? PARA QUEM? POR QUÊ?
            A segunda tese corrobora a certeza de que a relação docente e discente são complementares na definição do que é “ ser humano, pois insiste que ensinar não é transmitir conhecimento, mas construir valores, conhecimentos e atitudes que pautam a vida  das pessoas. A educação bancária, que se limita a depositar no transmitir para o aluno uma série inócua de informações é um desserviço às massas desfavorecidas.
             Ela nega a realidade como desafio e problema que todo ser humano precisa enfrentar. Ela nega a dialogicidade (comunicação e interação dialética entre o docente e o discente, a vivencia e o conhecimento, a teoria e a prática. Sem a dialogicidade não pode ocorrer o crescimento, o salto qualitativo que transforma a profissão docente em compromisso ético com a educação; que redimensiona reter informações como uma estratégia de enfrentamento dos problemas que nos cerca.
            Ensinar é mais do que transmitir conhecimento porque é um processo profundo, dinâmico e dialético, no qual a dimensão de identidade cultural e histórico social mergulha na formação do que é subjetivo. Por  isso educar não é simples transferência de conhecimento, mas também conscientização, compartilhamento, direcionamento sócio político do individual e do coletivo.
            Por fim, Freire destaca que ensinar é uma opção e habilidade exclusivamente humanas porque educar assim como para viver, é indispensável a consciência de o ser humano é inacabado porque “ A historia em que me faço com os outros com os outros (...) é um Tempo de possibilidades e não de determinismo” (Freire, 2002, p.58).
             A compreensão de que somos, portanto sujeitos históricos sociais não pode conduzir a inferência de que o real não pode ser mudado. A crença no inacabamento do homem e a compreensão criticam de certa determinação histórica social precisa, precisam isto sim, levar a um compromisso ético de que é possível superar os limites e as desigualdades que oprimem e reprimem a humanidade.
            Por tudo isso Paulo freire argumenta que “especificidade humana do ensino, a combinação ética e política contribui “reinventando o ser humano na aprendizagem da sua autonomia”(p.105). Educar emerge com possibilidade de libertar-se num movimento coletivo, num movimento no qual se promove, a coerência entre a teoria e a pratica.









                                                                                                                                             

                 
                                                                       


domingo, 24 de junho de 2012

REFLEXÃO : A HISTÓRIA ÚNICA E SUJEITO HISTÓRICO SOCIAL

            O perigo da história única, isto é, da supervalorização de um aspecto cultural, cultural ou político, dentre todas as perspectivas intervenientes que terminam por configurar o tecido da vida humana, nas argumentações de Chimamanda Adichie, é que forjam-se conhecimentos e comportamentos que na maioria das vezes correspondem aos aspectos e interesses de uma classe em particular que não é a realidade do individuo em particular. 
            A história única inscreve-se como mecanismo de funcionamento da ideologia por meio do qual, as ideias e interesses de uma classe, geralmente a classe dominante, são passados e assumidos como ideias e interesses de todas as camadas sociais. As ideias, interesses, conhecimentos e valores do indivíduo, da sua classe de origem, da sua etnia são subvalorizados e veiculados por meio de estereótipos, preconceitos, equívocos.
            A universalização da história única, de uma verdade absoluta sobre qualquer fato, cala a voz das pessoas como sujeitos históricos sociais.  Retira das pessoas o seu potencial para o exercício de uma cidadania mais crítica e participativa. Adichie, argumenta que assumia como leitora os valores dos personagens e obras literárias britânicas e norte-americanos até o momento em que descobriu nos escritores africanos valores e interesses ame e interesses  africanos.
            Chimamanda Adichie descobre a voz dos africanos e mais do que isso descobre que dentro da sociedade africana existem aspectos sociais e econômicos divergentes, então não há uma história única nem mesmo dentro da mesma cultura. O grande problema é que a “história única cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem uma história tornar-se única história”. A história única impõe-se como verdade absoluta.
            Situadas à luz das concepções freireanas sobre a educação as argumentações de Adichie sobre a história única demonstram a importância de questionamentos mais críticos sobre o currículo e a proposta pedagógica da educação escolarizada. Dentro da perspectiva Freireana o respeito ao currículo oficial e o seu cumprimento eficaz, transmissão do saber sistematizado, e um de-serviço às classes populares, a imposição de uma história única.
            Primeiro, porque os conteúdos curriculares representam por si só a supremacia dos conhecimentos considerados válidos, superiores, importantes, em detrimento dos conhecimentos populares considerados folclóricos, senso comum, desorganizados, vivências sem rigor acadêmico. Segundo, porque a transmissão de conteúdos curriculares é feita de forma sistematizada, técnica e objetiva, enquanto na vivência impera a convivência. Aquele pauta-se pela neutralização dos conflitos, uma vez que o conhecimento cientificado se impõe como verdade neutra e imparcial. Este pauta pela democratização do conflito, porque supõe a negociação de divergências.  
            Contra a história única denunciada por Chimamanda Adichi, Freire parece sugerir que a educação precisa superar a supervalorização do currículo único. O professor constata que formar é mais do que depositar as informações que o modo de produção capitalista por meio do neoliberalismo quer universar.Freire convoca os educadores formados e em formação à responsabilidade ética de conduzir os seres humanos a uma reflexão e a uma atuação mais crítica sobre a realidade.
            Freire destaca que a transmissão irrefletiva dos conhecimentos curriculares podem conduzir as massas populares ao consumismo desenfreado e a alienação coletiva. Essa última, aliás, é o aspecto fundante do conceito de história única que Adichie denuncia como niveladora de um conhecimento estereotipado.
            De acordo com Freire ensinar e aprender não se esgota na transmissão do  saber sistematizado que o currículo cristalizou como válido, legítimo e imparcial. O processo pedagógico precisa se alongar nas condições de produção dos conhecimentos e nas histórias de vida de educando e de educadores. A instituição escolar e os profissionais da educação precisam aprender a respeitar e a trabalhar pedagogicamente os saberes, as histórias dos educandos.
            Em síntese a partir desse compromisso ético, pedagógico e político constrói-se a possibilidade de uma proposta educacional que supere os estereótipos e preconceitos de uma história única e repressora. Uma história que ignora a voz dos trabalhadores que a construíram para dar voz apenas aos vencedores, socialmente e politicamente valorizados como Bretch nos mostra no poema: Perguntas de um trabalhador que lê.




quarta-feira, 13 de junho de 2012

A Educação Escolarizada e a Criatividade Humana



Ken Robinson faz algumas observações muito interessantes sobre o currículo da educação escolarizada da sociedade atual que segundo ele apresenta a mesma estrutura valorativa nas áreas do conhecimento em vários países do mundo. Essa estrutura seria a língua e a matemática no topo, os conhecimentos sociais e científicos no meio e as artes no fim. Tal disposição evidencia a supervalorização de uma área de conhecimento em detrimento de outras. É evidente que o conhecimento deve ser pragmático, funcional e alongar-se no futuro.
            A estrutura curricular que supervaloriza a língua e a matemática em detrimento das artes fundamenta-se na preocupação da educação escolarizada em formar o ser humano apenas para aplicação do seu potencial produtivo, é na verdade uma aposta na racionalidade como única forma de conhecer e interagir co o mundo .Pedagogicamente, é uma aposta que seleciona, por meio dos desempenhos dos alunos em cada uma delas, quem é inteligente, quem é mais capaz. Essa aposta mantém a perenidade da estrutura curricular praticamente desde o início do século XX e compromete  o sucesso escolar e social daquelas pessoas que tem maior domínio sobre outras formas de inteligências ( anestésica, interpessoal, artística, etc ).
             A preocupação em garantir uma proposta pedagógica que se alonga na apropriação do futuro não se justifica, argumenta Robinson. A excessiva valorização da inteligência enquanto habilidade cognitivas pautadas pela racionalidade lógica e científica pode ser questionada pela própria incerteza que é o futuro e pela provisoriedade  dos conhecimentos  científicos. O percurso  da evolução histórica e do desenvolvimento científico- tecnológico demonstra que não há verdades absolutas. A verdade é recriada a cada dia para adaptar-se às demandas de cada novo conhecimento.
            As consequências dessa supervalorização da língua, da matemática, da ciência e da racionalidade pelo currículo escolar é que o potencial de criatividade do ser humano não é desenvolvido, e de acordo com Ken Robinson “a criatividade é tão importante quanto à alfabetização”. É o potencial de criatividade que permite ao ser humano inovar e renovar as estruturas do seu real. A inteligência humana é dinâmica e interativa, isso permite, por exemplo, que uma dona de casa faça o almoço, preste atenção aos filhos, fale ao telefone, ao mesmo tempo. Centrado apenas na apropriação da língua e da matemática os currículos atuais matam a criatividade e comprometem o potencial de várias pessoas que dominam outros tipos de inteligência. Cria apenas pessoas que tem medo de errar e por isso não se desenvolvem da forma como poderiam.