UNIFEI – Universidade Federal de Itajubá
Pós-Graduação em Ensino de Ciências – Mestrado Profissional
Disciplina: Tendências Contemporâneas de Currículo
Professora: Rita de Cássia M. T. Stano
Aluno: Paulo Márcio Secundo dos Santos
Itajubá,16 março de 2012.
Itajubá,16 março de 2012.
RESUMO
A crise da mudança dos currículos - Ivor F. Goodson
A insistência de que uma mudança sempre traz inovações e progresso é questionada no texto “ A crise da mudança dos currículos “ que contrapõe a essa declaração uma série de argumentos comprovadores de que essa mudanças, muitas vezes é seguida por regressões, nesse caso curriculares e sociais . Por isso, é preciso analisar a mudanças criticamente antes de se pronunciar sobre seu potencial progressista ou regressivo.
Estudos sincrônicos sobre a cultura e as estruturas do ensino fornecem noções instantâneas do tempo e do contexto, mas somente os estudos diacrônicos ou históricos permitem a compreensão das influências e causalidades que direcionaram uma transformação do desenvolvimento organizacional, das políticas públicas, das reformas curriculares, etc. O autor argumenta sobre a necessidade de um conjunto de pesquisas históricas e longitudinais que tentem explicitar as relações entre as mudanças e o contexto histórico nos quais elas ocorrem.
A mudança é um processo que metaforicamente objetiva em três categorias; no fundo, no intermediário e na superfície do oceano contextual. No fundo, tempo de longo termo, as correntes oceânicas mais estáveis (fatores estruturais tais como visões de mundo, forma de governo) mudam de forma permanente, mais sutil. Por exemplo, a passagem das estruturas modernas (organizacionais, científica educacionais) para pós- modernas.
Num tempo intermediário situam-se as marés cíclicas, nas quais ciclos ( 50 anos ) de prosperidade e inovação são seguidos por declínio, isso pode ser percebido na educação por reformas parciais ( da gramática, por exemplo) que não atingem uma reforma curricular mais profunda.
No plano superior do oceano ( ondas e espuma ) eventos cotidianos, visão históricas de curto prazo no qual nenhuma mudança realmente se efetiva pois não passa de modernismo.
Os três planos da mudança ao longo da história, não são excludentes, são complementares e quando se alinham simultaneamente, a inclinação, a capacidade para a mudança e para a reforma (uma momento conjuntural) se objetiva, caso, por exemplo, da reestruturação global da educação na virada do século. Ou na proposta de economia Keysiana ( 1968-1972 ) defesa do estado do bem estar que influenciou o projeto pedagógico dos EUA e de todo mundo. As últimas reformas educacionais ( décadas finais do século XX)também refletem um momento de transformação estrutural da sociedade e da educação(escolas: eixos motores para o engajamento no mercado global, que desregulamentou as relações de trabalho e de mercado).
Pedagogicamente essas mudanças resultaram em processos externos de avaliação que propugnavam um controle de qualidade do projeto de ensino-aprendizagem, na prática conduziram a valorização externa de um certo treinamento, da instrução(preparação para realizar as provas oficiais que garantam a boa colocação da escola no ranking educacional e do país no ranking internacional) que tem gerado jovens insatisfeitos, sem formação ética que provocam ondas de violência.
Revisitando a teoria da mudança curricular
Por tudo o que já foi dito acima ratifica-se a compreensão de que a mudança longe de ser progressista, pode ter sentido oposto,logoé indispensável análises rigorosas sobre o otimismo das transformações a fim de examinar todas as suas possíveis conseqüências (negativas e/ou positivas) antes de implantá-las ou defendê-las inapelavelmente. Além disso, considerando que o projeto educacional inscreve-se no projeto social mais amplo da sociedade(local e internacional) é interessante observar como proposta de globalização econômica, forçou a padronização do consumo e da produção em todos os níveis das práticas sociais.Isso mercantilizou a educação(tornou-se uma mercadoria a mais), desintegrou propostas alternativas de produção, neutralizou movimentos pela democratização e forjou uma crise de posicionalidade: as sociedades locis perderam muito da sua identidade e historicidade, com isso não encontram terreno, fundamentos políticos, filosóficos, econômicos para se apoiar, para questionar e para promover mudanças positivas para si mesmas.
Reestruturando o ensino: como o papel dos agentes de mudanças é redefinido
O ensino laico expandiu-se rapidamente de 1890 a 1910, tornando-se Sistema Nacional de Educação em vários países do mundo apoiado na necessidade de modernização das estruturas econômicas e políticas que marcaram o período. Abrir o ensino as massas(democratização do ensino) foi o primeiro estágio para utilizar a educação para garantir a estabilidade social(divisão do trabalho e da sociedade em classes). O segundo estágio foi a reestruturação do currículo, que no início, tinha uma identidade local, em favor de uma seleção disciplinar que funcionasse como”mecanismos de fixidez e persistência” das estruturas sociais, políticas e econômicas. A disciplina escolar é, portanto, arcabouço estrutural da educação e da sociedade.
Além disso, a subdivisão da área do conhecimento em subáreas disciplinares funciona como o arquétipo da divisão e da fragmentação do saber e da sociedade e encobre as relações de poder que sustentam tanto a engenharia da ordem social quanto a própria elaboração do currículo.
A elaboração do currículo e de uma proposta pedagógica a nível nacional envolve a negociação de interesses divergentes oriundos dos conflitos de interesses dos vários grupos que compõe a sociedade. Como não é possível atender satisfatoriamente a todos os grupos, o que desestabilizaria a manutenção dos privilégios das classes dominantes, o documento final de uma proposta curricular objetiva alegitimação de disciplinas, cursos, cargas horárias, etc consideradas adequadas à manutenção da ordem vigente.
A preservação da estrutura do currículo em disciplinas, por exemplo, assegura a valorização de uma disciplina em detrimento de outra, a fragmentação do conhecimento e a internatização das lutas a respeito do ensino público. Isso não me um processo neutro, burocrático ou de racionalização educacional do conhecimento. É um expediente ideológico que assegura a conservação da ordem social, política e econômica e a neutralização de forças realmente transformadoras. A organização curricular fundamentada na seleção curricular inibe o questionamento sócio-político da educação e coíbe o trabalho docente em estimular transformações pela mobilização de ações e conhecimentos. (Todo professor precisa cumprir um programa ou planejamento para realizar a função pedagógica que o Estado espera dele).
Assim, toda reforma curricular parece envolver um acerta valorização de disciplinas tradicionalmente legitimadas como indispensáveis e uma pretensa inovação, no sentido de modernizar o ensino. A análise de duas propostas curriculares ( de 1904 e de 1988 ) que se pretenderam inovadoras e democralizadoras revelaram a Falácia dessa pretensão, pois a única mudança disciplinar mais significativa foi a substituição de disciplinas domésticas ( 1904 ) por tecnologia ( 1988 ) .
Houve apenas a reafirmação da importância das disciplinas tradicionais, e a discussão sobre a reestruturação dos objetivos do ensino confinados à dimensão do psicopedagógico. Não houve nos diversos países do mundo que se propugnaram pela reforma debate sobre as dimensões sócio-políticas da educação. Logo a pretensa democratização do acesso e da qualidade da educação efetivou-se apenas no nível do burocrático, pois não assegurou o ingresso participante e produtivo nas práticas sociais, ou seja, não permitiu o questionamento das desigualdades.
As reformas curriculares indicam a continuidade histórica das desigualdades. Apesar de algumas propostas alternativas de currículo que buscavam redefinir e questionar a hegemonia do currículo oficial, no caso dos EUA o “ Grammar school “ , a criação das “ comprehensive schools “ não conseguiram ganhar força e se universalizar no cenário econômico norte-americano. O que se tem no cenário educacional da maioria dos países EUA, Grã Bretanha e inclusive do Brasil é uma continuidade histórica da fragmentação do conhecimento e da valorização de umas disciplinas em detrimento de outras. As reformas acabam por engendrar currículo Nacional mais regressivos ( caso da reforma Britânica de acordo com Moon e Martimore) .
Na reforma curricular britânica, reforçou-se a fragmentação das disciplinas, centralizou-se a gestão e as orientações didático-metodológico , desintegrou-se a descentralização anterior que favorecia uma proposta pedagógica mais crítica e voltada para os interesses da comunidade escolar, coibiu-se o trabalho do docente como definidor parcial do conteúdo transformando-o em mero transmissor do conteúdo.
Num momento em que os diversos setores sociais estão extremamente preocupados com a qualificação para o trabalho devido a reestruturação econômica propugnada pela globalização, a educação na Grã-Bretanha em muitos outros países, está preocupada apenas em conhecimentos técnicos e políticos capazes de atrair os investimentos financeiros.A influência do modo de produção, no momento sob orientação da globalização, direciona desde as reformas curriculares até a distribuição de recursos para atender ao projeto educacional. O ministro da província de Ontário no Canadá, diz por exemplo, que é preciso investir recursos nas áreas educacionais e produtivas que tornem o país mais competitivo. Isso descarta o investimento na educação e na formação profissional nas massas de trabalhadores com baixos salários, uma vez que a produção complexo, a produção que gera maiores lucros, concentra-se nas atividades de alto salário.
Novamente a educação é convocada a aperfeiçoar, a refinar o conhecimento dos trabalhadores a fim de que eles possam produzir eficazmente e o seu país ganhe em competitividade. Uma educação pautada pelo desenvolvimento de conhecimento específico e pela técnica. Novamente o professor é solicitado a contribuir para a formação do novo trabalhador que a sociedade globalizada exige. Por isso, há uma tendência em articular a própria formação profissional do professor com a supervalorização do trabalho de campo. Ao lado da formação teórica, e até sobrepondo-se a ela, surge a exigência do treinamento na própria função, a apropiação de técnicas que tornem a sua futura atuação mais prática e eficiente ( conhecimento pessoal prático ).
Contra a supremacia da formação teórica vigorou até momento, emerge a valorização da prática, Essa oposição de orientações teóricas para a formação do professor resulta na redução do conhecimento mais amplo sobre a educação, numa formação acrítica e a-histórica que compromete uma atuação mais questionadora desse professor nos encaminhamentos das estruturas sociais, econômicas, políticas e culturais. Outra falácia argumentativa que defende a mudança como progresso diz respeito a tentativa de situar a responsabilidade individual da escola na conquista da melhoria da qualidade do ensino ou na pro pulsão do desenvolvimento econômico. A escola que promove as mudanças demandadas pela sociedade e consegue a melhoria da educação “ segundo a orientação tecnicista e globalizada vigente, acabam recebendo recursos a mais que com certeza são retiradas de outras menos eficientes, tornam-se em um novo sonho de consumo ( pois a boa classificação num ranking chama novos alunos) e sua experiência isolada muitas vezes não pode ser reproduzida, universalizada. Torna-se escola excludente.
Todas essas considerações demonstram que a reforma curricular e um posicionamento muito sério e complexo dentro da proposta educacional de um país e cabe reflexões mais rigorosas do que se tem visto até o momento na historia da educação mundial.
Faça a referência do texto original e autor.
ResponderExcluirSeu blog está muito legal.
ResponderExcluirObrigado,preciso melhorá-lo bastante.Gostei demais do seu blog,você é bem criativo.Os seus resumos são ótimos.
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